Dissipa-se, no longo nevoeiro, a cintilação de um archote,
um rasto de imponderáveis amantes.
Quem por eles clama, clama em vão.
Já os pulsos se abriram para a desolação da terra.
Estes rios não são os seus rios.
E esta água mutilada,
esta luz que fere o amplo pátio dos invernos é a sua água, a sua luz.
Onde o raio despedaça os ténues fios do amor
uma inesperada palavra assume o desastre.
Amaram-se e perderam-se.
De pé, sobre o convés, contemplarão o fim dos navios.
O albatroz descreve os vultos imensos da saudade.
Há, sobre o olhar dos condenados,
uma aflição de sombras,
quando o sol se afasta para os seus domínios.
A sedução dos frutos é a sedução da morte e,
seduzidos, eles demandaram o grande vale.
Um arco de som vibra eternamente no centro da tempestade.
Eles voltam-se para fora,
para a unânime certeza da escuridão do mundo.
A alma parte.
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA (1948)
Biografia