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Faixa Sonora

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

NOS MEUS BRAÇOS



Nos meus braços te acolhi
No meu coração te meti
Com ternura te abracei
Com loucura te beijei
Nas ondas do mar te escondi
Querendo-te só pra mim
Sonho louco, egoísmo
Não perguntei se querias
O querer deve ser mútuo
Não era isso que sentias

Não és ave de gaiola
Nem peixe de aquário
Tens uma alma generosa
E coração solidário
Anos de dor e sofrimento
Moldaram teu ser assim
Tens asas de anjo
Beleza de querubim

Meu egoísmo é insano
Queria-te só pra mim…
Agora sinto-me sozinho
Vendo-te nos braços de alguém
Costas voltadas ao passado.

Vivo de recordações
Destroçado e abandonado
Choro minhas ilusões…
De nada me arrependo
De todo o amor que te dei
Dos beijos que recebi
Sempre que estive a teu lado.

(m.p. – out/2011)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

QUASI



Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d’ espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quasi vivido…

Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o principio e o fim – quasi a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo… e tudo errou…
- Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim… ¬-
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…

Momentos d’alma que desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

Se me vagueio. encontro só indícios…
Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;
E mãos d’herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…

[...]

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890-1916)
Poemas Completos

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

DEPOIS DE…




Depois de longa viagem a um santuário
em socos de madeira que cansam os músculos
o chá é mais amargo e os seios duros
tanto terraço para uma tarde

já não há mais oceano
não vejo o oceano debaixo das minhas andas
enquanto deambulo

as mãos nas coxas os pés nos pulsos
nu em pensamento
como um chicote feito de meias incomparáveis

o rádio está ligado o fumo do cigarro cai-lhe em cima
pelos prazeres de rebolar num pântano
a que chamam a Via Láctea
em terras Ocidentais longínquas sobre as árvores
onde moram as caveiras hilariantes

FRANK O’HARA (1926-1966)
Vinte e Cinco Poemas à Hora do Almoço
(tradução de José Alberto Oliveira)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

OS VERSOS QUE TE FIZ


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

(Florbela Espanca) 1894 – 1930