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Faixa Sonora

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A SOMBRA DO HOMEM



Quando, num sono aéreo, tudo dorme,

E a treva lembra luz adormecida…

E o silêncio, quimérico e disforme,

É só uma canção interrompida…

 

Quando um pinheiro, além, na indecisão

Da noite, que o perturba e lhe faz mal,

Se vê, perdido em vaga confusão,

Tornar-se um ermo e vago pinheiral;

 

Quando, na sombra espessa, ó minha fonte,

Desliza, anseio de água, a tua voz,

De som molhando o rosto do horizonte,

Que sofre e chora, às vezes, como nós…

 

Quando em paz tudo dorme, eu sonho e cismo.

Remorso? Exaltação? Delírio a arder?

E ouço vozes, que vêm dum fundo abismo,

Por minhas mãos aberto no meu ser!

 

E ouço vozes e passos… Quem me fala?

És tu, ó chuva? Ó vento? Ou serei eu?

Ah, como distinguir a minha fala

Das vozes que andam, tristes, pelo céu!

 

Já de tanto sentir a Natureza,

De tanto amar, com ela me confundo!

 

TEIXEIRA DE PASCOAES (1877-1952)

As Sombras, À Ventura, Jesus e Pã

 

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