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Faixa Sonora

domingo, 23 de janeiro de 2011

TRADIÇÃO VIVA


No país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história de amor só até ao pescoço

e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma – ora aí está ­-
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
É relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato

MÁRIO CESARINY (1923 – 2006)
A Única Real Tradição Viva
Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa
(organização de Perfecto E. Cuadrado)

3 comentários:

  1. Uma coisa leva a outra, que leva a outra sucessivamente... Poema muito interessante, que faz pensar.Gostei muito.

    Beijos e ótimo domingo.

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  2. Olá meu amigo!
    Quem sou eu? A Anna de sempre, dos Spaces, do Facebook e agora que os Spaces se foram... Sou a Anna do Blgspot! :-)
    Beijos sem fim....

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  3. Tanto talento pra tocar as pessoas com palavras...
    Parabéns
    bjs*

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