Neste retrato
estás a olhar para diante, para sempre, para muito além,
sabe-se lá por que saudade, por que mágoa, mas além,
onde talvez houvesse um cofre aberto para os sonhos que devastei.
pérolas queimadas,
pérolas negras do medo e da paixão,
metais preciosos roubados às forjas de Deus,
tudo o que neste retrato desenha,
com incandescente ferro e pincéis,
ardor, fúria, tenacidade,
mas nunca a renúncia,
nunca as marcas do luto e da febre sobre a lua amarela.
Neste retrato eras tu – e não poderia ser eu?
com o tempo por cima, a passar impiedosamente,
o tempo do declínio, o tempo do pó,
tudo o que hoje se comprime nesta moldura de prata,
ao centro da mesa, tristemente.
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA (1948)
Biografia
Lindo, lindo! Mário, um abraço!
ResponderEliminarOlá Mário boa noite. Lindo este poema. Há sempre um cofre aberto para os sonhos, uns recalcados, outros sobrevoados outros esquecidos: mas, muitos! muitos vividos. E, são esses sonhos que vivemos que nos deram o bom da vida, que não há tempo que decline nem os enche de pó. Porque o que foi lindo, é sempre lindo. Nunca o tempo apaga. Um grande abraço, com muita ternura da tua amiga Ange...
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